Para o bem e para o mal, publicarei aqui também os textos que foram redigidos para o REDE ARTES VISUAIS FUNARTE na fase de projeto. Fazer isso não visa fornecer uma chave de interpretação una para nossa amada geringonça, ou explicá-la. Mas expor parte do nosso pensamento inicial da obra, mantendo nosso processo o mais aberto possível. Foi mais ou menos daqui que ela partiu, sabe-se lá onde chegará. Se ficar de pé e ligar eu já meu dou por quase feliz.
EgoMaquina é uma
videoinstalação interativa projetada para um usuário por vez. Ela
busca levar questionamentos de ordem pessoal para o universo antes
impessoal da interface do videogame, porém de uma forma agressiva.
Isso ocorre a partir da adaptação de um texto teatral contundente
(todo composto de perguntas dirigidas ao público) para a interface
de uma máquina de múltiplas telas com rostos de atores e um
joystick na forma de pistola.
Após a inserção de uma ficha de
fliperama, a máquina produz uma espécie de jogo onde diversos
rostos surgem nas telas e dirigem perguntas ríspidas ao usuário
sobre sua posição frente ao mundo. Esse, pode interagir com a
máquina através da pistola e silenciar os inquisidores atirando nas
telas que se apagam temporariamente.
O projeto reúne, no âmbito da
videoinstalação, elementos de três linguagens distintas. Do cinema
tomamos o primeiro-plano, enquadramento clássico, valorizando o
rosto do ator e intensificador da carga emocional da figura cênica.
Do teatro tomamos não apenas o texto com o qual o público vai ser
confrontado e o ferramental teórico para a direção dos atores, mas
também a própria capacidade de interpelação direta do público
através do contato visual olho-no-olho. Do videogame tomamos sua
interface individualizante e seu hardware, que não apenas exige do
público uma atenção singular, mas também permite uma co-criação
lúdica do que nas telas lhe é apresentado como consequência de
suas escolhas.
A máquina em questão visa inverter
o vetor imersivo que opera tanto no cinema como nos videogames. Ao
invés do espectador encontrar um escape para um universo ficcional
no qual sua identidade original é suspensa, a Egomáquina invade o
mundo externo do usuário, lhe dirige perguntas pessoais e
agressivas, como se ela mesma fosse um indivíduo ou uma
multiplicidade deles. O obriga a se posicionar frente a isso como o
indivíduo que ele de fato é. Não há papel a ser assumido, a não
ser o de si mesmo frente aqueles rostos e interrogações, tudo isso
com um joystick/arma já na mão. De forma que não somente seus
disparos, mas até mesmo sua omissão já é uma escolha.
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