terça-feira, 3 de abril de 2012

Texto Funarte 01


Para o bem e para o mal, publicarei aqui também os textos que foram redigidos para o REDE ARTES VISUAIS FUNARTE na fase de projeto. Fazer isso não visa fornecer uma chave de interpretação una para nossa amada geringonça, ou explicá-la. Mas expor parte do nosso pensamento inicial da obra, mantendo nosso processo o mais aberto possível. Foi mais ou menos daqui que ela partiu, sabe-se lá onde chegará. Se ficar de pé e ligar eu já meu dou por quase feliz.

EgoMaquina é uma videoinstalação interativa projetada para um usuário por vez. Ela busca levar questionamentos de ordem pessoal para o universo antes impessoal da interface do videogame, porém de uma forma agressiva. Isso ocorre a partir da adaptação de um texto teatral contundente (todo composto de perguntas dirigidas ao público) para a interface de uma máquina de múltiplas telas com rostos de atores e um joystick na forma de pistola.
Após a inserção de uma ficha de fliperama, a máquina produz uma espécie de jogo onde diversos rostos surgem nas telas e dirigem perguntas ríspidas ao usuário sobre sua posição frente ao mundo. Esse, pode interagir com a máquina através da pistola e silenciar os inquisidores atirando nas telas que se apagam temporariamente.
O projeto reúne, no âmbito da videoinstalação, elementos de três linguagens distintas. Do cinema tomamos o primeiro-plano, enquadramento clássico, valorizando o rosto do ator e intensificador da carga emocional da figura cênica. Do teatro tomamos não apenas o texto com o qual o público vai ser confrontado e o ferramental teórico para a direção dos atores, mas também a própria capacidade de interpelação direta do público através do contato visual olho-no-olho. Do videogame tomamos sua interface individualizante e seu hardware, que não apenas exige do público uma atenção singular, mas também permite uma co-criação lúdica do que nas telas lhe é apresentado como consequência de suas escolhas.
A máquina em questão visa inverter o vetor imersivo que opera tanto no cinema como nos videogames. Ao invés do espectador encontrar um escape para um universo ficcional no qual sua identidade original é suspensa, a Egomáquina invade o mundo externo do usuário, lhe dirige perguntas pessoais e agressivas, como se ela mesma fosse um indivíduo ou uma multiplicidade deles. O obriga a se posicionar frente a isso como o indivíduo que ele de fato é. Não há papel a ser assumido, a não ser o de si mesmo frente aqueles rostos e interrogações, tudo isso com um joystick/arma já na mão. De forma que não somente seus disparos, mas até mesmo sua omissão já é uma escolha.

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